3 Lições sobre o Trading
Se o leitor deste artigo for como eu, durante toda a sua vida ouviu falar de trading e de Mercados Financeiros, associando estes termos a algo esotérico e apenas compreendido por uma porção ínfima da população mundial.
Mais tarde, muito à boleia de cenários “hollywoodescos”, estes conceitos ganharam uma conotação diferente, permitindo que jovens sedentos de sucesso pudessem dar largas à imaginação e idealizarem um mundo de riqueza só à disposição dos “1%”.
Foi um pouco com um misto de ambos que criei a minha imagem do trading e dos Mercados Financeiros e assim embarquei nesta aventura, há cerca de 2 anos e meio.
Ao longo deste período descobri, entre outros, que o trading não é, de todo, algo “esotérico”, nem algo que seja uma porta escancarada para a obtenção de riquezas inimagináveis (endereço desde já, um pedido de desculpas aos que procuravam encontrar o Santo Graal do trading neste texto).
Não me considerando, de todo, um trader com vasta experiência, tenho vindo, ainda assim, a extrair algumas aprendizagens que considero bastante valiosas e que gostaria de partilhar com o leitor:
1 – Todos os traders retiram o que pretendem dos mercados
Nas palavras do mítico trader Ed Seykota:
“Perdendo ou ganhando, todos conseguem o que querem do mercado. Algumas pessoas aparentam gostar de perder, por isso ganham ao terem prejuízo.”
Apesar de ser, no mínimo, estranha, esta afirmação é brutalmente sincera e faz muito sentido se pensarmos em casos concretos. Tenhamos em consideração dois traders: o trader a) é um investidor com o mindset correto (mais sobre este assunto, adiante) e a disciplina rigorosa que o permitem encarar o trading como algo de longo prazo, tendo totalmente assimilado o ideal de que pequenos ganhos, constantes e regulares, ao longo do tempo têm um potencial tremendo ao fim de vários anos. Este é um trader que planeou a sua carreira e que pretende estar nos mercados durante décadas, construindo a sua carteira de investimentos com tempo, dedicação e rigor.
Por outro lado, o trader b) é um fanático pela adrenalina e gosta de estar nos mercados pelo entusiasmo que cada investimento lhe traz. Este trader chegou aos mercados alimentado pela esperança de lucros significativos num curtíssimo espaço de tempo, não pretendendo construir carteira de investimentos, mas sim conseguir um par de homeruns que lhes permita dar a dose de adrenalina que só os lucros significativos trazem.
Analisando estas duas abordagens, a frase de Ed Seykota ganha novo relevo. O trader a) como investidor disciplinado, e que pretende estar nos mercados durante muito tempo, provavelmente irá obter os seus objetivos, já que a sua abordagem juntamente com uma gestão de risco exemplar, tenderá (palavra-chave no trading) a trazer-lhe uma longa e bem-sucedida carreira no mundo dos mercados financeiros.
Por outro lado, o trader b) também conseguirá exatamente aquilo que pretende, que é um conjunto de adrenalina e entusiasmo apropriado a um autêntico gambler. No fundo, os mercados serão o seu casino e o trading, a sua roleta.
Duas abordagens, dois traders, um vencedor e um perdedor. No final do dia, só um será lucrativo, mas ambos irão extrair o que querem do mercado.
2 – O trading é simples…, mas não é fácil
Continuando no âmbito das frases pouco esclarecedoras, permita-me, o leitor que elabore sobre a mesma.
Ignorando, por instantes, tudo o que sabe sobre o trading, aborde o trading da forma mais simplista possível: os mercados são constituídos por Bulls e por Bears. Por outras palavras, no mercado existem Compradores e Vendedores, que irão criar as duas forças responsáveis pela movimentação de preços: a Procura e a Oferta.
Continuando a esquecer tudo o que sabe sobre o trading, os mercados financeiros não são nada mais, nada menos do que isto mesmo, procura e oferta. Quando a procura excede a oferta, os preços movimentam-se numa trajetória ascendente; quando a oferta excede a procura, os preços movimentam-se no sentido contrário. Assim, caberá ao trader tirar partido destes movimentos e seguir a tendência, aquela que é indiscutivelmente a estratégia mais utilizada e, certamente, a mais bem-sucedida dos mercados
Simples, correto? Ora, se é simples, porque é que não podemos tornar isto também fácil? Pela simples razão que o ser humano gosta de complicar. Se não vejamos:
O ativo em causa é o WTI Crude Oil, mas para efeitos deste texto, gostaria que o foco recaísse sobre tudo o que está no gráfico. O leitor deverá estar nesta altura, a perguntar-se como é que é possível fazer sentido do que lhe é apresentado e se o fez, pergunta muito bem. Na verdade, este exemplo pode ser um pouco exagerado, mas não anda longe das representações gráficas que muitos traders utilizam nos seus computadores.
A acessibilidade do trading (no sentido em que qualquer um pode muito rapidamente começar a negociar em qualquer parte do mundo), trouxe por outro lado, toda uma panóplia de indicadores que estão ao dispor dos traders para sua utilização. E a verdade é que muitos parecem considerar que, se os indicadores podem ser utilizados, então deverão ser utilizados, resultando neste verdadeiro “acidente” que é o gráfico acima representado.
Voltando ao início deste ponto, o trading é simples e, sempre que podemos, devemos torná-lo ainda mais simples. A máxima do Keep it Simple deverá ser seguida à risca nos mercados financeiros, até porque quanto mais informação um gráfico apresentar, mais dificuldade terá o cérebro humano em decifrar tudo aquilo que os olhos veem.
Como devemos, então, analisar a estrutura dos gráficos dos nossos ativos?
Cada trader tem o seu método, e aquilo que para um será a “sua praia”, para outro poderá não resultar. Existem 1001 maneiras de realizar boas análises gráficas (a chamada análise técnica), mas para efeitos deste artigo volto a propor que nos fiquemos pelo mais básico possível. Vejamos:
Parecendo que não, este é o mesmo ativo (WTI Crude Oil) que estava acima representado. Mesmos preços, mesmos movimentos, mas com um gráfico de muito mais fácil interpretação.
Recordando que a estratégia recomendada é a de trend following, iremos querer tirar partido dos movimentos de tendência que o gráfico nos apresenta.
Ignorando (no âmbito deste artigo), os movimentos mais curtos entre cada letra (a até b, b até c e c até d), o leitor consegue facilmente depreender que, ao contrário do que vimos entre a) e b), o ponto c) é inferior ao ponto b), indicando que tendência compradora (que motivou a subida dos preços entre a) e b)), deu lugar a uma tendência vendedora. Ora, com este ponto devidamente assente, o leitor sabe que a nossa estratégia é a de seguir a tendência e assim, até que se verifique um máximo mais alto que o do ponto c), iremos apenas e só estar dispostos a vender este ativo. Chegando ao ponto d), constatámos que voltámos a não ter um novo máximo face ao anterior (de forma simples, d) não ultrapassou c)) e assim, a tendência vendedora mantém-se intacta neste horizonte temporal. Estratégia? Continuar a procurar vender até que a tendência se altere.
Naturalmente que esta é uma visão ultra simplista do trading e na Income Markets é lecionado conteúdo (incluindo alguns indicadores bastante úteis, para oferecer um pouco mais de informação – ainda que em muito menor número do que o verificado no 1º gráfico) que permite ao investidor tirar o máximo proveito de todos os movimentos do gráfico. No entanto, esta é a base de tudo aquilo que deve ser feito posteriormente.
Analisar a tendência, definir se somos compradores e vendedores e tirar proveito do que o mercado nos vai oferecer. É simples…, mas não é fácil.
3 – Acima de tudo… aprenda a perder
Ninguém gosta de perder. Poderia deixar esta frase como estava e terminava aqui o meu artigo, que ninguém poderia contestar a afirmação… No entanto, no trading é absolutamente crucial aprender a perder.
Tudo aquilo que eu escrevi até agora, foram lições que tenho vindo a aprender com o tempo, mas se há alguma que verdadeiramente me limitou o crescimento enquanto investidor (e continua a fazê-lo), é sem dúvida esta última.
O trading não é nenhuma modalidade ou desporto, mas tem uma componente comum e inevitável em relação a estes: as perdas irão acontecer. Na vida, para além dos impostos e da morte, também as perdas no trading se tornam uma inevitabilidade e cabe a cada um de nós saber lidar com estas.
No início do meu percurso enquanto trader, desde cedo ouvi que era imperativo saber aceitar e gerir as perdas, porque estas irão sempre aparecer. No entanto, fruto de ingenuidade e “exuberância” da juventude, nem sempre (para não dizer nunca) levei em grande conta este conselho e a verdade é que, por diversas vezes atormentou o meu percurso.
Tal como já referi anteriormente, não existe o Santo Graal do trading que nos trará uma carreira imaculada com um registo 100% vitorioso de trades. O trading deverá ser:
1) Seguir a tendência;
2) Deixar os trades vencedores “correr” e “cortar” os perdedores rapidamente.
Com a devida gestão de risco, um trader deverá ser capaz de apresentar um registo em que exibe trades vencedores e trades perdedores, sendo que os bem-sucedidos excedem os perdedores em valor monetário. Vejamos um exemplo deste tipo de registo (para efeitos deste exercício, considere os traders a) e b) caracterizados anteriormente):
Neste “exercício académico”, é possível tirar algumas ilações:
1) O trader perdeu quase tantos trades (47%), quanto os que ganhou (53%);
2) Os trades vencedores tendem a ser superiores aos trades perdedores, em valor monetário;
3) Apesar de uma percentagem de acerto de, quase, 50/50, ao fim de 15 trades, o investidor obteve um resultado líquido de 29€.
Repare na importância de saber perder no trading. Este registo demonstra que não é preciso ter uma percentagem de acerto a roçar a perfeição e que até um “50/50” é mais do que suficiente para sermos lucrativos. Para isto, bastou uma correta gestão do risco, em que as perdas são minoradas (em valor monetário) e os lucros maximizados.
Vejamos agora um exemplo do que tende a acontecer com traders impacientes, com pouco critério na tomada de decisão e um mindset pobre, focado na obtenção de ganhos significativos:
1) O trader obteve uma percentagem de acerto de 50%;
2) Os ganhos obtidos são mais significativos face aos verificados com o trader a);
3) As perdas são, também elas, bem mais significativas;
4) Apesar da mesma percentagem de acerto, o trader b) termina com um prejuízo de -103€;
5) Perante as perdas registadas, a conta do investidor vê-se significativamente afetada, o que leva ao abandono dos mercados financeiros.
O que foi feito de errado pelo trader b)? Em primeiro lugar, é evidente, pelos valores envolvidos, que os investimentos realizados foram muito maiores, com a perspetiva de obtenção de lucros mais significativos. No entanto, a realização de investimentos mais significativos, será também sinónimo de perdas mais avultadas quando estas ocorrerem.
Por outro lado, e para efeitos deste ponto, ficou claro que o trader incorreu em várias perdas avultadas consecutivas após um período de ganhos. Não é preciso conhecer pessoalmente o trader para saber que este não soube gerir as perdas e reagiu de forma emocional às mesmas, tentando recuperar rapidamente o que perdeu, levando inevitavelmente a mais insucesso.
Mais uma vez: saber lidar com perdas envolve, em primeiro lugar, uma boa gestão de risco para que, quando estas acontecem, sejam minimizadas. Cumprindo este princípio, basta apenas aceitar a inevitabilidade das mesmas e jamais reagir de forma imprudente e emocional, ignorando os princípios e estratégias pré-definidos.
Falando por experiência própria, uma má reação às perdas tem um efeito “bola de neve” potencialmente devastador para os nossos fundos, podendo 1 dia mau levar à destruição de todo um trabalho bem feito durante meses.
Aceitar as perdas é reconhecer que estamos no trading num horizonte temporal de muitos anos e jamais iremos deixar que um mau trade nos impeça de ter uma carreira potencialmente bem-sucedida nos mercados.
Por fim, deixo-vos com este pensamento: as perdas dizem mais sobre o sucesso de um trader, do que os ganhos obtidos.
Obrigado pela leitura!
João André
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