E assim, sem avisar e tão rapidamente, parece que 2019 está a acabar. O último trimestre alberga alguns dos eventos mais antecipados do ano, desde o Natal até à passagem de ano (e o meu aniversário!). Quando pensamos nos últimos três meses do ano, associamo-los aos acolhedores momentos em família, e para alguns dos que vivem no hemisfério norte estes meses são de neve e atividades relacionadas. De onde escrevo, tenho sorte em dizer que um Inverno frio é um Inverno onde as temperaturas chegam perto dos 10ºC e as praias já não estão cheias de turistas e residentes locais.
Olhando para os mercados financeiros, este trimestre é um dos mais interessantes pois contém historicamente um dos piores meses do ano e simultaneamente dois dos melhores meses do ano, em termos de retornos. Para ajudar à festa, este último trimestre de 2019 promete ser um dos mais “recheados” dos últimos tempos e o que quer que aconteça poderá definir qual o rumo que os mercados deverão ter nos próximos tempos.
Ora, sendo este o caso, considero que esta seja uma excelente oportunidade para nos debruçarmos sobre o que 2019 nos trouxe:
Após um mau 2018, o qual foi o primeiro ano desde a crise financeira global em que os mercados acionistas registaram um retorno negativo, as expetativas dos investidores no começo de 2019 eram de continuação da queda. Felizmente, não poderiam ter estado mais errados. À data do início de outubro, o S&P500 (o índice que engloba as 500 maiores empresas do mercado acionista norte americano) está a subir uns risonhos 19%. A economia americana tem sido das mais resilientes este ano e já vamos abordar quais podem ser as causas. Do outro lado do atlântico, o DAX (o índice que engloba as 30 maiores empresas do mercado acionista germânico) também está a subir 19%, o que contrasta drasticamente com o pobre crescimento da economia alemã neste ano. Isto apenas realça como o mercado acionista, que é maioritariamente composto por enormes multinacionais, consegue navegar em marés diferentes das da economia local. Algumas vezes, mercados financeiros e economias até podem ir em direções opostas. Afastando-nos dos países grisalhos do ocidente, deparamo-nos com grandes contrastes na segunda maior economia do mundo – China. Hong Kong tem sido o palco de uma das maiores manifestações políticas dos últimos tempos e isto tem-se sentido nas ações que por lá são cotadas (a subir uns meros 2.50% desde janeiro), ao passo que as empresas cotadas em Shangai viram o preço das suas ações disparar 20%.
Já que estamos a falar de crises políticas, alguém perguntou pelas terras de Sua Majestade? Enquanto escrevo isto, têm surgido rumores de um possível acordo entre aqueles que bebem chá e os que gostam de fronteiras abertas e dívidas públicas enormes. Apesar de tudo, o futuro continua a revelar-se tão incerto como sempre. 2019 presenteou-nos com vários capítulos da saga do Brexit, desde a proposta de acordo de Theresa May que foi rejeitada 4 vezes, até Boris Johnson (Bojo) ser nomeado primeiro-ministro e prontamente decidir suspender o parlamento, apenas para ver esta decisão ser comicamente rejeitada pelo Supremo Tribunal britânico. Já se escreveu tanto sobre este assunto que vou poupar o caro leitor e não adicionar mais tinta. No final do dia, os investidores querem é ver os seus ganhos e a dura realidade é que o FTSE100 (o índice que engloba as 100 maiores empresas do mercado acionista londrino) encontra-se significativamente atrás dos seus pares e a subir ‘uns meros 8%’ em 2019. Sim, um fim de toda esta incerteza e instabilidade poderá reverter esta situação e podemos argumentar que o mercado acionista britânico apresenta mais valor que a maioria dos mercados.
Finalmente, indo para os grandes eventos macro que têm moldado o mundo nestes últimos 10 meses: é algo expectável que com as eleições presidenciais em novembro de 2020 ao virar da esquina, Trump precisa desesperadamente de algum acordo que possa vender como uma vitória à sua base eleitoral e Xi Jinping está a ser forçado a fazer algo para tentar reverter o recente arrefecimento da economia chinesa. A grande diferença é que Xi não tem que se preocupar com eleições de 4 em 4 anos e por isso ele e a sua equipa conseguem adotar uma visão temporal de longo prazo, o que é extremamente positivo no que toca a investimentos. A guerra comercial Sino-Americana afeta-nos a todos pois prejudica as cadeias de produção globais e é em parte responsável pela apreciação do Dólar americano. Desde o acordo de Bretton Woods, o Dólar americano tem preenchido o papel de moeda de reserva (world reserve currency) e é procurado tantos em bons como em maus momentos. Importa perceber que um Dólar americano mais forte reduz a base monetária mundial (Global Money Supply) e que é especialmente prejudicial para os mercados emergentes e as economias dependentes da exploração de matérias-primas.
Enquanto estou prestes a clicar no botão “enviar”, não consigo deixar de considerar caricato como tanto os “ativos de risco”, como os “ativos de refúgio” (e.g: Ouro que está a subir 16% desde Janeiro e também as Treasury Bonds) têm tido desempenhos tão bons. A teoria económica quando nos tenta explicar os benefícios da diversificação, diz-nos que normalmente estes dois não se movimentam na mesma direção (qual destes dois é que irá corrigir primeiro!?). Quais serão os responsáveis por estas distorções? Quantidades infinitas de dinheiro barato e yields negativas em dívida soberana (algo nunca antes visto)? Realmente vivemos em tempos interessantes.
João Feliciano Martins
15/10/2019
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