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Cheap Money: a fast beginning with a slow ending

Na perspetiva de um posicionamento de médio/longo prazo o investidor deve estar atento ao ambiente que o rodeia e disposto a fazer sua preparação com base em fontes de informação credíveis, imparciais e globais.

Uma destas das fontes indispensáveis é o Fundo Monetário Internacional, mais concretamente os seus Outlook económicos, divulgados a cada início de novo ano com sucessivas atualizações no início de cada trimestre.


Neste documento, de leitura obrigatória para um investidor preparado, os economistas do FMI revelam projeções para os mais importantes indicadores económicos das diversas economias mundiais, riscos e oportunidades subjacentes, condições financeiras e prioridades macroeconómicas das economias desenvolvidas e em desenvolvimento.

Este artigo focar-se-á no Outlook do ano 2020 e a sua evolução, numa perspetiva de resumo do ano transato e no Outlook de 2021 com vista o posicionamento futuro.

2020 começou com uma perspetiva de recuperação da economia mundial por parte do FMI, apesar de em menor número do que as projeções de Outubro de 2019, este mantinha-se positivo com um aumento para 3,3% em 2020 e 3,4% em 2021. Para este otimismo contribuiu de forma significativa os estímulos monetários e uma política monetária dovish por parte de vários bancos centrais em 2019. Apesar de reduzidos, foram apontados riscos que podem levar a uma diminuição destes valores, sendo os principais tensão comercial EUA-China, no-deal Brexit, outras tensões geopolíticas principalmente no Médio Oriente e desastres climáticos graves devido às alterações climáticas. Como prioridades para obter estes resultados são apontadas a maior cooperação multilateral em múltiplas áreas, o aumento do investimento em atividades produtivas e políticas fiscais acomodativas, consolidação e redução da divida nacional no sentido de aumentar a confiança dos parceiros.


No final do primeiro trimestre o inesperado surgimento da pandemia Covid-19, veio pôr em causa todas as projeções iniciais, girando 180 graus a caminho de uma recessão, com valores significativamente piores que a durante a crise financeira. As projeções eram agora de um decréscimo de 3% em 2020 e um crescimento de 5,8% em 2021, ficando assim a economia mundial no início de 2022 ainda em níveis inferiores a 2019. Os preços da energia e dos metais diminuíram significativamente (excepto o ouro que sofreu menores quedas pela sua característica de safe heaven) devido à diminuição de circulação de pessoas e atividade industrial, sendo a previsão de um contínuo declínio dos preços ao longo do ano. A incerteza domina as previsões devido ao pouco conhecimento e inexperiência face a uma pandemia, à intensidade e eficácia dos confinamentos adotados, às repercussões da constrição no consumo e nas condições dos mercados financeiros. As prioridades devem agora passar por conter a pandemia, aumentando gastos no sector da saúde, e aprovisionar o impacto da quebra de atividade para as pessoas e negócios com políticas fiscais e monetárias direcionadas. Os estímulos monetários dos bancos centrais e a injeção de liquidez na economia de forma rápida é de extrema importância para garantir a confiança e reduzir os impactos negativos, posicionando a economia para a recuperação, mas em tempos em que as taxas de juro se encontram já em níveis reduzidos e o nível de divida dos países é, em muitos casos elevada, a política monetária alternativa em conjunto com um política fiscal acomodativa e personalizada torna-se essencial, reduzindo a incerteza e quebras no consumo e investimento por parte dos consumidores.


Com o desenrolar da situação pandémica e mesmo com as intervenções rápidas e musculadas dos bancos centrais, existiu uma significativa diminuição das horas de trabalho, o equivalente à perda de milhões de postos de trabalho, com a consequente quebra de procura e redução no consumo por parte dos indivíduos, interrupção da oferta e diminuição do investimento pelas empresas, levando a uma diminuição da inflação para níveis próximos de zero nas economias desenvolvidas.


Tendo em conta um pior resultado face ao expectável do 1º trimestre e uma contração ainda mais severa no 2º trimestre (excepto China), as expectativas do FMI eram agora de um agravamento da situação, colocando em vista uma recessão em 2020 com valores de 4,9% e uma recuperação bastante mais com apenas um crescimento de 5,4% no ano seguinte, deixando a economia mundial no início de 2022, 6,5 pontos percentuais abaixo dos níveis pré-Covid. Neste cenário, é espectável uma manutenção das condições financeiras atuais, com aumentos dos défices fiscais e rácios da divida, bem como uma manutenção das políticas monetárias por parte dos bancos centrais por um longo período. Os preços da energia, mais concretamente é espectável manter-se baixo durante 2020-2021 e pelo contrariamente antecipado os preços de outras commodities como os metais, devem aumentar os preços de forma rápida.


Na última revisão do ano de 2020, e contrariamente ao anunciado nas projeções anteriores, as taxas de crescimento de 2020 foram revistas em alta para -4,4%, fruto de um segundo trimestre menos mau do que o esperado associado ao uma diminuição das restrições impostas, para o controlo da pandemia, na segunda metade do ano. O desemprego apesar de se manter elevado começou a reduzir a partir de Maio, bem como a produção industrial e vendas a retalho. A inflação manteve-se bastante abaixo dos níveis pré-pandémicos. Face a uma eventual desaceleração no 4º trimestre as previsões para 2021 foram revistas em baixa para 5,2%.

Este cenário foi possível devido às políticas fiscais implementadas até à data no valor de 6 triliões de dólares, bem como ao papel das políticas monetárias de manutenção taxa de juro em mínimos históricos e compra de vários tipos de ativos em valores nunca vistos (20% do PIB nas economias avançadas), por um horizonte temporal alargado.


As condições financeiras melhoraram desde Junho, e com base em todos estes estímulos, é amplificada uma desconexão entre os mercados e a economia real. Assim, a previsão de baixos ou nenhuns retornos em ativos de menor risco, levou a subidas nos mercados acionistas para alem dos valores pré-pandémicos, declínios nas yields das obrigações soberanas, depreciação do dólar americano, e valorização de moedas de países exportadores de commodities.


O preço do petróleo caiu mais de 60% entre Fevereiro e Abril devido a quebras na procura, preocupações no armazenamento e desacordo nos cortes de produção. Após reduções na produção os preços subiram no WTi de valores negativos em Abril para mais de 40 dólares em Junho, estando ainda abaixo dos valores do início do ano. As previsões são de um preço medio de 41,7$ em 2020 e um aumento para 46,7 em 2021, no entanto a incerteza é elevada. Por outro lado, os metais tiveram um aumento de 18,2% entre Fevereiro e Agosto, com principal destaque para o ferro (37%) e o cobre (14,4%), ajudados por uma aumento da atividade industrial chinesa, queda nos inventários e quebras de oferta. Os metais preciosos dada a sua característica de safe heaven, incerteza face a pandemia e proteção contra a desvalorização provocada pelos estímulos monetários, mantiveram a tendência ascendente de procura sendo esperado uma aumento nos preços de 28,4% em 2020 e 10,4% em 2021.


Ainda com o problema da pandemia bem presente, com um aumento de novos casos em muitos países e um início de vacinação lento e atribulado, o final de 2020 e início de 2021 levou a novos confinamentos e com eles o fantasma de uma nova paragem da economia e redução do crescimento económico. Não obstante, a contração de 2020 revelou-se menos severa do que o esperado sendo de -3,5 e as previsões para 2021 e 2022 são mais otimistas do que anteriormente, incorporando a expansão da vacinação no final do ano e o continuo suporte económico, com crescimentos previstos de 5,5% e 4,2%, respetivamente, superando os valores pré-pandémicos apenas em 2022.

De igual forma, é expectável o aumento das trocas comerciais globalmente em 8% e 6% para 2021 e 2022, sendo o sector dos serviços mais lento na recuperação pela manutenção do fecho total ou parcial de fronteiras ao turismo e viagens de negócios. Em linha com as projeções anteriores a inflação deverá manter-se em níveis baixos, sendo nas economias avançadas inferior a 1,5%. Apesar do desemprego ter diminuído em muitos países, desde o início da pandemia, ainda é bastante elevado e em grande parte suportado por esquemas de apoio ao desemprego como os lay-offs.


Também no sector da energia, são esperados aumentos dos preços do petróleo em cerca de 20%, no entanto mantendo-se abaixo da média de 2019. Outras commodities, em particular os metais, deverão ter uma forte apreciação em 2021.

O otimismo das previsões é baseado em três principais factores: 1) diminuição dos contágios para níveis muito baixos através da disponibilidade e efetividade de vacinas, aumento de testagem e rastreamento de contactos, aumentando a confiança dos consumidores e empresas o geraria aumento do consumo, investimento e emprego; 2) o continuar de apoios fiscais avultados (ou aumento dos mesmos – EUA e Japão) e diminuição dos défices pelo aumento das receitas e diminuição de gastos, pelo efeito da própria recuperação; 3) manutenção das políticas monetárias em vigor pelo menos até ao final de 2022.


Por outro lado, os riscos são ainda consideráveis e poderão ditar um cenário menos otimista. Um escalar do número de infeções, um aumento dos confinamentos e por tempo prolongado, uma desaceleração da vacinação, quer por problemas na distribuição, na renitência à inoculação por parte da população ou mesmo um grau de imunidade mais reduzido põe em causa as previsões. Mais, se o apoio fiscal e monetário for retirado cedo demais muitas empresas podem falir, o desemprego aumentar, perda do poder de compra, aumento de dívidas e dificuldade em pagar as mesmas. O aumento das tensões sociais já verificadas, o agravamento das condições socioeconómicas das populações e a falta de confiança nas medidas tomadas podem por em causa a recuperação económica.


Apesar da incerteza no medio prazo e de passos importantes terem sido dados no controlo e resolução da crise de saúde pública, torna-se importante pensar mais além. Desde o início, a rápida resposta das entidades responsáveis passou pela injeção de forma nunca antes vista de liquidez na economia, liquidez esta na sua maior parte na forma de endividamento. Enquanto esta liquidez reduz temporariamente as dificuldades da economia, agrava futuramente as dívidas soberanas, em muitos casos já elevadas, tornando-se insustentáveis, colocando em causa o possível de crescimento económico futuro. No final de 2020, a previsão da divida soberana nas economias avançadas era superior a 125% do PIB. Apesar das taxas de juro baixas por longo período, este aumento da divida irá certamente diminuir a capacidade de investimento em áreas críticas, principalmente após a pandemia, e levará a um cada vez mais difícil abatimento das mesmas, podendo restar apenas a opção de restruturação em alguns países no sentido de melhorar o panorama global.


Para reflexão deixo de seguida alguns gráficos que valem a pena acompanhar e que ilustram de forma eximia os contrastes atuais entre a economia real e os mercados financeiros, a influência das políticas monetárias adotadas e a imensa liquidez injetada na economia desde Março de 2020 e que se deverá manter por um longo período. Eventualmente, os estímulos terminaram ou no mínimo a sua criação abrandará, a política monetária dos bancos centrais tornar-se-á menos dovish, e nesse momento como será o comportamento nestes gráficos? Como reagirão os mercados? E qual a sua influência sobre a economia real?



Projeções mundiais da evolução do PIB anual em cada trimestre de Jan. 20 a Jan. 21




Divida mundial em % do PIB



Evolução do SP 500 Jan. 20 a Jan. 21




Evolução do USD de Jan. 20 a Jan. 21



Evolução do Ouro de Jan. 20 a Jan 21



Evolução do Ouro de Jan. 20 a Jan 21




João Ramalho

Pro Investor

 

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